sábado, 16 de maio de 2009

après moi, le delugé

Sinestesia é a palavra de sorte do dia. O céu estava com um gosto amargo e suas cores eram ásperas. Não são aquelass cores cremosas ou picantes do verão. Tem um sabor misto de fel e óleo de rícino que me dá ânsias de querer voltar no tempo. Agora estou no trabalho.- Sim, senhora, estou aqui para ajudá-la no que for preciso.Não é um trabalho voluntário, às vezes digo que faço pouco e ganho o razoável, mas hoje é como se esse mundo virtual estivesse realmente numa quarta dimensão. Eu acabo fazendo diferença na vida dessas pessoas.- Muito obrigado, Maiara, é o terceiro técnico e ninguém resolveu meu problema.E eu resolvi. Um problema e eu dei a solução. Qual era o nome dele mesmo? Eu já nem me lembro,e amanhã meu nome será atendente. Neste mês eu falei em média com 300 pessoas. Matematicando isso dá 2.400 em todo o tempo que eu estou aqui. Duas mil e quatrocentas pessoas dependeram de mim e eu nem sei o nome delas, onde moram, o que se passam em suas vidas. E elas nem sabem como é meu rosto, o que eu gosto de comer, qual é minha cor preferida. Tudo que veio para nos aproximar, apenas nos afastou ainda mais. Nós, eu e você, ele e aquele outro lá.Já saí do fio da meada, mas ainda estou achando minha vida um pouco cinza, assim como céu de São Paulo. Minha mente está tão poluída quanto; e eu nem me importo mais com o aquecimento global!

Um comentário:

não disse...

"Sinestesia é a palavra de sorte do dia. O céu estava com um gosto amargo e suas cores eram ásperas. Não são aquelass cores cremosas ou picantes do verão. Tem um sabor misto de fel e óleo de rícino que me dá ânsias de querer voltar no tempo."

-simplismente amei, até decorei este trecho.