sexta-feira, 22 de maio de 2009

oublier le temps des malentendus

Eu tento andar ao lado do tempo, mas quando ele está à frente me diz:
- Corra, corra! Você nunca me alcançará.
E eu corro, alcanço e o passo. E ele me diz:
- Por que está indo tão depressa? Você nem sabe o que te espera.
E eu desacelero e esta atemporalidade me mata aos poucos. Quanto tempo devo contar. como contar o incontável?
Meu relógio imaginário me diz que é hora de pensar, e quando penso o tempo passa devagar, mas quando olho no relógio analógico da parede do meu quarto já se passaram dias, meses e anos.
Eu estou com vinte anos, duas décadas. Semana passada eu ainda brincava no parquinho do meu bairro imaginando que eu teria seios grandes quando crescesse. E assim que eu pisquei meus olhos vi que a realidade era totalmente diferente, eu não tenho seios grandes, mas consegui tudo o que eu imaginava e ainda melhor. Mês passado eu fiz treze anos, com uma festa em que estavam todos os garotos populares da escola e eu nunca soube realmente o que é ser a rejeitada do colégio, mas eu nem estou mais no colégio, já estou cursando a quarta faculdade e justo no ano que eu estaria me formando, dançando no baile e ganhando um anel de formatura do meu pai. Estou no primeiro ano de um curso que não era o sonho dele. Meu pai, não o biológico, o Beto, o Pezão, o Zeca Pagodinho, grande Palmeirense, aliás roxo que tem troféus de bilhar, dominó, cartas, Tem ou tinha? Eu não consigo calcular o que são cinco anos sem ele. Faz uma semana só, é o que parece às vezes quando eu acordo e escuto os passos pesados dele sobre o assoalho de uma casa humilde me acordando para eu ir trabalhar. Ou quando ele vinha me cobrir a noite e eu só fingia que estava dormindo. Minha mãe também faz isso, e fingindo que eu estava dormindo a escutei dizendo que tudo ia acabar bem. E está tudo bem agora, só me culpo por não dar valor a tudo que ela faz por mim. (continua)

Um comentário:

não disse...

cara ... no final até chorei.
adorei esse maiara.